
Ela entra no carro e a pergunta que se segue a ação é a mesma: “E aí minha amiga, como estão as coisas?”.
Ao questionamento, a resposta apresentada são as lágrimas.
Eu silencio! O que dizer a uma mãe que desespera diante da perda súbita de uma filha amada?
Não! Não existem palavras no vocabulário terrestre que traga àquele coração tão machucado o mínimo de paz!
Meu silêncio não a incomoda, conta-me. Machuca mesmo é o barulho das frases prontas e insistentes na tentativa de fazê-la superar a amargura da ausência do abraço, da ligação, da visita, que não mais ocorrerão nessa vida material.
Pedem-na para superar. Afinal, já se passaram alguns meses desde a morte da filha.
Minha expressão de espanto diante do “conselho” de terceiros fica explícita demais. Ela compreende. Sente-se espancada pelas afirmativas da incompreensão humana que tornam tudo muito fácil na teoria.
Questiono-me como eu estaria se tivesse sepultado meu filho, o ar que me faz respirar. Admiro-a por ainda estar de pé, atuando na seara do Cristo para beneficiar o próximo. Certamente, eu não teria forças se estivesse em seu lugar.
Lágrimas derramadas, poucos minutos depois a amiga querida respira fundo e me dá uma aula de grandeza espiritual.
Encara a dor, não permite que a coloque no fundo do poço. Resiste! Busca nas tarefas da caridade a força necessária para seguir em frente.
Por mais lhe pesem os grilhões da dor e da saudade, ela anda, impacta a inércia com a mobilidade da doação de tempo e de amor.
Conclui o diálogo (ou monólogo, já que não consigo dizer nada) com um sorriso tímido, como a dizer para não me preocupar.
Paramos em nosso destino, descemos da pequena caixa que, por hora, permitiu o desabafo ao invés de sufocá-la.
Encontramos o grupo e ela abraça a todos. Eu a observo com admiração! Desnecessário se faz dizer para ela seguir em frente, isso aquela mãe doída já está fazendo com maestria.
Preciso é, apenas, respeitar quando ela, vez ou outra, tombar. Compreender que nem sempre estará de pé é ofertar-lhe paz, segurar sua mão e calar as palavras é dedicar-lhe compaixão.
Somente as mães que, assim como ela, já viveram o esmagamento de perder um filho poderão entender cada movimento dela. Eu não sou capaz!
Por Nice Almeida

