A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) realizou, na tarde desta quinta-feira (21), sessão especial para discutir a mobilidade por bicicleta em João Pessoa: ciclofaixas, desafios, segurança e o perfil do ciclista do município. O vereador Milanez Neto (MDB) presidiu a discussão.
“Semana passada, em conversa com a Universidade Federal, estava falando justamente sobre mobilidade urbana, utilizando o eixo do ciclismo como forma de mobilidade. É muito triste ver a realidade atual da cidade em relação ao tema. A gente só lembra do ciclista quando morre alguém em acidente. Hoje, a gente assiste as faixas exclusivas de ônibus sendo compartilhadas com o ciclista. As pessoas não conseguem entender o respeito que o ciclista precisa ter”, lamentou Milanez Neto.
Segundo o parlamentar, o ciclista disputa espaço com as pessoas que caminham nas calçadas. “As poucas ciclovias que existem na cidade, quando não estão destruídas, estão destruindo. Então, a gente precisa olhar, não apenas para o ciclismo esportivo, mas o ciclismo de trabalho. Hoje, parte do Ifood é entregue com pessoas que trabalham em bicicletas. Pessoas operárias da construção civil saem todos os dias às quatro, três e meia da manhã para trabalhar em bicicletas. A gente chama esse tema para ser discutido na cidade para que a sociedade entenda que mobilidade urbana não é apenas carro e ônibus. Podemos ter mobilidade urbana com calçadas estruturadas, com ciclovias sendo construídas no ambiente em que a gente vive”, acrescentou.
José Neto, diretor de planejamento da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob-JP), apresentou como está a malha viária de ciclovias na cidade. “Na nossa cidade temos um pouco mais de 121 km de malha cicloviária, dividida em ciclovia, ciclofaixa e ciclo rota. Estamos em um trabalho de expansão dessa malha cicloviária. Nos últimos quatro anos tivemos um aumento de 34 km de novas ciclovias e ciclofaixas. Estamos fazendo um planejamento para aumentar essa malha, inclusive fazendo a conectividade das ciclovias existentes”, informou.
O diretor de planejamento disse que existe um problema histórico em João Pessoa na implantação das ciclovias. “Quando elas foram implantadas, no passado, foram pensadas para o lazer, por isso não tem conectividade entre os bairros. Nós temos que pensar a ciclomobilidade como uma ferramenta de ligação entre os bairros e uma forma de transporte público, esse transporte ativo, que o usuário vem a usar com segurança e tranquilidade. Nós precisamos ofertar cada vez mais ciclovias e ciclofaixas com segurança e conforto, trazendo essa garantia para o ciclista de que ele vai se deslocar de um ponto a outro com segurança. Hoje, estamos trabalhando intensamente nessa conectividade, e o cidadão que sai do Valentina já consegue chegar até a praia por meio de ciclovias e ciclofaixas. Estamos buscando atender essas áreas mais distantes da praia, como Bairro das Indústrias, que não tinha nem um quilômetro de ciclovias e já implantamos, buscando essa conectividade”, destacou.
O vereador Raoni Mendes (DC) afirmou que uma cidade que se abre para a bicicleta, é uma cidade que se abre para pessoas. “Nós precisamos pensar em estímulos para as pessoas utilizarem bicicletas para deslocamento, porque há um estímulo, que não é de hoje, de só utilizarmos carros, o tempo inteiro. Se nós queremos pensar de forma integrada, precisamos também pensar em fazer um estímulo ao uso da bicicleta”, enfatizou.
O ex-vereador e ciclista Coronel Sobreira falou sobre a malha cicloviária da cidade. “Nós entendemos que a mobilidade urbana só vai acontecer, e melhorar, se dois segmentos forem observados. Um é a melhoria do transporte público, porque quando você melhora o transporte, você incentiva as pessoas a usarem esse transporte, deixarem seu veículo em casa. O outro ponto é exatamente os veículos não motorizados, as bicicletas. Se nós não temos um sistema cicloviário bom na cidade, as pessoas não querem usar esse sistema precário, com ciclovias quebradas, danificadas, desconectadas. Se nós tivéssemos um sistema conectado, eu tenho plena certeza de que muitas pessoas usariam a bicicleta. Usar a bicicleta é bom para a saúde, para a mobilidade, para o meio ambiente, enfim, até a economia também vai ser destacada”, ensejou.
A professora da UFPB e ciclista, Andréa Porto Sales, apresentou uma pesquisa realizada com a Transportativo, uma ONG que trabalha fomentando a mobilidade por bicicleta em escala nacional, que traçou o perfil do ciclista em João Pessoa. “João Pessoa é uma cidade que tem muitos ciclistas, muitos para o esporte e também quem usa para o lazer e deslocamento de curtas distâncias. Mas, quem usa a bicicleta todos os dias, como meio de transporte na cidade, está numa situação bastante perigosa. Não só porque são pessoas de vulnerabilidade e precisam da bicicleta para se deslocar, pelo custo, mas porque essas pessoas se deslocam por áreas onde não tem infraestrutura ou essa infraestrutura está sucateada”, lamentou.
“Nós precisamos, não só incentivar o uso da bicicleta, como desincentivar o uso do carro. Aí sim é muito difícil, conversar com pessoas que não usam bicicleta”, colocou Terezinha Oliveira, membro do Movimento Massa Crítica.
Participaram ainda da sessão especial Jackson Macedo, estudante e presidente municipal do PT; André Nascimento, membro do Pedal Jampa; entre outros.
CMJP