Considerações iniciais
O Grupo dos Vinte (G20) é composto pelas 19 principais economias globais, além da União Europeia (UE) e, mais recentemente, da União Africana (UA). O G20 exerce um papel central na formulação de diretrizes econômicas mundiais. Entre os indicadores mais relevantes para medir a saúde econômica dessas nações desenvolvidas e emergentes, destaca-se a taxa de desemprego, que reflete tanto a eficiência das políticas públicas quanto a dinâmica do mercado de trabalho.
Uma análise comparativa das taxas de desemprego dos países membros do G20, que incluem a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, revela as disparidades existentes nas condições de trabalho e na eficiência das políticas públicas em diferentes contextos socioeconômicos, em cinco continentes.
A taxa de desemprego do G20
O G20 é o principal grupo econômico do mundo e foi criado em dezembro de 1999, em Berlim, como uma resposta às crises financeiras globais da década de 1990, que afetaram os países emergentes, como o México (1994), os Tigres Asiáticos (1997), a Rússia (1998) e o Brasil (1999). Originalmente composto por ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos países membros, o grupo econômico evoluiu para incluir cúpulas anuais de chefes de Estado e de Governo a partir de novembro de 2008, em Washington, como uma forma de coordenar discussões e respostas à Crise de 2008, que começou nos Estados Unidos, chamada de Grande Recessão.
O G20 é responsável por cerca de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) global, 75% do comércio internacional e 60% da população mundial. O G20 é, sem dúvida, o principal fórum de governança econômica internacional. Nesse cenário, a taxa de desemprego emerge como um indicador-chave, pois mede não apenas o nível de ociosidade na força de trabalho, mas também a capacidade das economias de criar empregos sustentáveis em um ambiente de inovações tecnológicas e rápidas mudanças globais.
O Brasil encontra-se na presidência rotativa do G20 e a próxima cúpula dos líderes do G20 será em novembro de 2024 no Rio de Janeiro. A última cúpula dos líderes do G20 foi em Nova Delhi, em setembro de 2023. No Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro ocorrerá 19ª Cúpula do G20 e os líderes de 19 países debaterão também a taxa de desemprego, que varia amplamente, em 10 países emergentes e 9 países desenvolvidos, conforme o Quadro 1:
Os dados da Trading Economics indicam uma clara divisão entre as economias desenvolvidas e emergentes dentro do G20, com uma variação significativa entre as taxas de desemprego. Entre os países com taxas de desemprego mais altas (igual ou acima de 6%), destacam-se tanto economias desenvolvidas, como França (7,3%), Canadá (6,6%), Itália (6,5%) e Alemanha (6,0%), quanto economias emergentes, como África do Sul (33,5%), Turquia (8,8%), Índia (8,5%), Argentina (7,6%) e Brasil (6,6%).
É possível observar que a taxa média de desemprego do G20 é de 6,7%. Há uma grande disparidade entre as nações, refletindo tanto os desafios econômicos quanto as políticas de combate ao desemprego adotadas por cada nação. A África do Sul tem a maior taxa de desemprego do G20 e a Rússia e Coreia do Sul, ambas com 2,4%, têm as menores taxas de desemprego do G20 na atualidade.
Essa relevante disparidade pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o grau de industrialização, políticas públicas de emprego formal e o severo impacto de eventos globais recentes, como a pandemia da COVID-19, a Guerra na Ucrânia, a Guerra em Israel e as mudanças climáticas.
É preciso detalhar os principais destaques da taxa de desemprego do G20 na atualidade. A África do Sul é o unico país africano do G20 e apresenta a maior taxa de desemprego do grupo, com 33,5%. Esse número reflete uma situação crítica, sobretudo, para os mais jovens, onde problemas estruturais, como desigualdade econômica, baixos níveis de investimento, baixa produtividade do trabalhador e uma economia emergente que ainda sofre os efeitos alarmantes do fim do apartheid em 1994.
O Brasil é a nona maior economia do mundo e a terceira maior das dez maiores economias emergentes do G20. O continental, populoso e lusófono Brasil ainda enfrenta desafios para reduzir ainda mais o desemprego, em 6,6%. A pandemia da COVID-19 teve um impacto severo, a recuperação econômica tem sido lenta, uma legislação trabalhista complicada, os elevados tributos, resultando em uma taxa de desemprego relativamente alta.
O Canadá, o segundo maior país do mundo e a décima maior economia do planeta, compartilha a mesma taxa de desemprego do Brasil, 6,6% em agosto de 2024, embora sua economia desenvolvida tenha mostrado sinais de resiliência em meio à crise global. A taxa reflete, em parte, desafios relacionados à transição para uma economia mais digital e à adaptação às novas demandas do mercado de trabalho.
A China, por sua vez, mantém uma taxa de desemprego relativamente baixa, sendo 5,3%, considerando seu status como a segunda maior economia do planeta e a maior economia dos países emergentes do G20. Este resultado é impulsionado pela vasta industrialização, com forte produção de bens de consumo duráveis como computadores, ar-condicionados, celulares, painéis solares e carros elétricos, além de bens de consumo não duráveis como maçãs, uvas, arroz e carne de porco.
Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, enfrentam atualmente uma taxa de desemprego de 4,2% da população economicamente ativa (PEA). Embora esse percentual possa parecer relativamente baixo quando comparado a padrões de outros países desenvolvidos, ele mascara desafios estruturais que o mercado de trabalho norte-americano enfrenta, particularmente devido aos impactos da Quarta Revolução Digital.
Tanto a Rússia quanto a Coreia do Sul apresentam as menores taxas de desemprego do G20, ambas com 2,4%. No caso da Rússia, a economia relativamente fechada e as políticas públicas de estímulo à criação de empregos têm desempenhado um papel central na manutenção dessa baixa taxa. É preciso revelar que é muito forte a indústria bélica russa na geração de empregos, além da indústria de recursos não renováveis, o petróleo e o gás natural.
Já a Coreia do Sul, com uma economia desenvolvida e fortemente orientada para a tecnologia e a inovação, vem demonstrando alta eficiência na geração de empregos, especialmente nos setores de alta tecnologia. O desemprego sul-coreano é historicamente baixo devido a uma combinação de fatores que contribuem para um mercado de trabalho dinâmico: i) crescimento econômico sustentado; ii) forte indústria de exportação; iii) elevados investimentos em educação de qualidade; e iv) políticas governamentais de estímulo ao emprego formal.
Considerações finais
É preciso ressaltar que será a primeira cúpula do G20 no Brasil e que reunirá pela primeira vez os líderes dos países membros do Grupo dos Sete (G7) e seis líderes dos 10 países integrantes do BRICS Plus. No belíssimo Rio de Janeiro, os líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido mais os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Arábia Saudita debaterão sobre as possíveis soluções do desemprego no G20.
O histórico Rio de Janeiro será palco também da primeira participação do líder do UE, que representa 27 países europeus, ao lado do líder da UA, que representa 54 países africanos, no debate-chave sobre o desemprego no G20, sobretudo, entre os jovens. As taxas de desemprego variam amplamente entre os países do G20, refletindo contextos econômicos, sociais, ambientais e políticos muito distintos.
A África do Sul lidera na taxa de desemprego e enfrenta desafios estruturais persistentes, enquanto outras nações, como a Coreia do Sul, que consegue manter o desemprego baixo devido a fatores como forte crescimento industrial e políticas públicas eficazes.
A prosperidade econômica é, e continuará sendo, o principal motor para a criação de empregos no século XXI. Em um cenário global cada vez mais competitivo e interconectado, as nações que conseguirem promover um crescimento robusto, inclusivo e sustentável terão melhores condições de gerar oportunidades de trabalho dignas para sua população, especialmente, a população jovem, que está entrando no mercado de trabalho. O Brasil tem 9,6 milhões de jovens que nem estudam e nem trabalham, segundo os dados de 2023 do IBGE.
No mundo existe 1,9 bilhão de pessoas com 15 a 29 anos e representa 23% dos 8,2 bilhões de habitantes da Terra. Concluindo, a análise comparativa dessas 19 economias do G20 destaca a importância de políticas públicas específicas e de investimentos privados estratégicos para fomentar a geração de empregos e garantir a estabilidade econômica em diferentes cenários globais, em plena Indústria 4.0.
Paulo Galvão Júnior