1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo tem como principal objetivo despertar uma nova reflexão crítica sobre a situação econômica do estado da Paraíba (PB). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Rendimento de todas as fontes 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou que Paraíba tem a maior desigualdade econômica do emergente Brasil em 2022.
O estado da Paraíba está localizado na região Nordeste do continental Brasil e possui uma área territorial de mais de 56 mil km2, o equivalente a 0,66% da área total do País e a 3,63% do Nordeste, segundo os dados do IBGE. Comparando-se em âmbito internacional, a Paraíba quase corresponde à extensão territorial da Croácia na Europa.
De acordo com os dados oficiais do IBGE, são mais de 4,0 milhões de habitantes na PB, sendo 51,8% do sexo feminino e 48,2% do sexo masculino. E é o décimo quinto estado mais populoso do Brasil e o quinto estado mais populoso da região Nordeste.
2. A PARAÍBA É A CAMPEÃ NACIONAL EM DESIGUALDADE ECONÔMICA
Um dado econômico preocupante é constatar que o rendimento médio mensal domiciliar per capita na Paraíba é de R$ 1.086 no ano de 2022. Enquanto, no Brasil é de R$ 1.586 e no Nordeste de R$ 1.011.
Outro dado econômico assustador é que o estado da PB registrou um Índice de Gini de 0,558 em 2022, índice que mede a desigualdade de renda do rendimento mensal domiciliar per capita e mensurado pelo IBGE.
O Índice de Gini é uma medida de concentração de uma distribuição, e seu valor varia de 0 (perfeita igualdade) até 1 (máxima desigualdade), mas, são dois valores que jamais serão alcançados, pois ambos representam os extremos idealizados pelo estatístico italiano Corrado Gini (1884-1965), que criou no ano de 1912, o Coeficiente de Gini, que mede o grau de concentração de renda em determinado grupo por meio da diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, em uma determinada região ou de um determinado país.
O Índice de Gini da Paraíba é de 0,558, bem superior ao do Brasil (0,518) e do Nordeste (0,517). E o Coeficiente de Gini mais próximo a 1 revela elevada desigualdade, ou seja, quanto maior o Índice de Gini, maior a desigualdade de renda. E o Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita da Paraíba encontra-se à frente dos estados brasileiros de Roraima (0,547) e do Rio de Janeiro (0,540), como também, dos estados nordestinos de Sergipe (0,528) e do Rio Grande do Norte (0,526).
O IBGE registrou também que 50% da população paraibana com rendimentos mensais per capita de R$ 351. Enquanto, a população mais rica com rendimentos mensais per capita de R$ 23.132. Em outras palavras, os paraibanos 1% mais ricos ganhavam o equivalente a 65,90 vezes a renda dos 50% mais pobres. Enquanto, os brasileiros 1% mais ricos (R$ 17.447) recebem o equivalente a 32,49 vezes a renda dos 50% mais pobres (R$ 537) em 2022.
No ano de 2022 cerca de 35,5% dos domicílios paraibanos recebiam o Auxílio Brasil (hoje, Bolsa Família), 4,8% obtinham o Benefício da Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e 3,3% auferiam outros programas sociais como o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL).
Segundo a PNAD Contínua, do IBGE, a Paraíba ficou em terceiro lugar no País na proporção de domicílios recebendo de R$ 400,00 para R$ 600,00 do Auxílio Brasil, com 35,5%, atrás dos estados do Maranhão (40,7%) e do Piauí (40,3%).
É preciso revelar que nos 223 municípios paraibanos foram 710.310 beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) mais do que os 449.120 empregados com Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) em fevereiro de 2023. Infelizmente, têm mais paraibanos e, sobretudo, mais paraibanas recebendo o PBF do que trabalhando com CTPS em plena Indústria 4.0.
É preciso destacar que em relação ao PIB per capita, ou seja, o PIB nominal dividido pela população total, a Paraíba encontra-se na 25ª posição entre as 27 Unidades da Federação da República Federativa do Brasil, com uma renda per capita de R$ 17.402,13 no ano de 2020. E no mundo é liderado por Luxemburgo com US$ 104.649 e o secular Brasil figura na 92ª colocação com US$ 8.464.
Na atualidade, entre as cinco classes econômicas, é possível constatar que a maioria da população paraibana encontra-se na Classe C, a classe média, são pessoas que recebem de 4 até 10 salários mínimos (SMs) por mês, com 45% do total. Em seguida, em segundo lugar, a Classe E, a classe mais pobre (de 0 até 2 SMs mensais), com 33%. Em terceiro lugar, encontra-se a Classe D, a classe pobre (de 2 até 4 SMs por mês), com 16%. Em quarto lugar, a Classe A, a classe mais rica (acima de 20 SMs mensais), com 4%. E em último lugar, a Classe B, a classe rica (de 10 até 20 SMs por mês), com apenas 2% do total. Somando as Classes D e E são 49% da população da PB.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a maioria das riquezas e das rendas nas quatro messoregiões paraibanas acabam parando nas mãos da minoria mais rica e que vive muito bem. E a péssima distribuição de renda gera a exclusão social. Infelizmente, os ricos estão cada vez mais ricos, enquanto, os pobres cada vez mais pobres na terra de Celso Furtado.
Lamentavelmente, a Paraíba é o estado com a maior desigualdade de renda do Brasil, a frente de Roraima e do Rio de Janeiro, além do estado nordestino com o maior Coeficiente de Gini, a frente de Sergipe e do Rio Grande do Norte. E o elevado Índice de Gini revela o quanto à sociedade paraibana é desigual economicamente na atualidade.
Na minha singela opinião, para enfrentar e vencer a desigualdade econômica na Paraíba, a longo prazo, existem várias políticas públicas de desenvolvimento econômico, entre elas, uma séria política contra o alto desemprego, com o Estado reduzindo os elevados tributos estaduais, garantindo vagas formais por concursos públicos, além de metade de um salário mínimo para quem não encontra trabalho com carteira assinada nos três setores da economia paraibana por três meses consecutivos.
Finalizando, é possível uma Paraíba melhor, com grandes investimentos públicos e privados em educação de qualidade e com o aumento da ocupação no mercado de trabalho nas 23 microrregiões paraibanas. Em plena Quarta Revolução Industrial, precisamos acreditar que o valioso capital humano é capaz de promover a prosperidade econômica, porque é o capital humano e as tecnologias disponíveis que aumentam a produção e a produtividade de bens e serviços na economia de mercado.
Enfim, é preciso pensar bem, realizar boas escolhas e, sobretudo, agir rápido, porque nossos filhos e nossas filhas estão indo embora da linda, tropical e desigual Paraíba para lugares tão distantes, tão frios, em busca de novas oportunidades de trabalho, de melhores salários e de uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
G1 GLOBO. Paraíba tem maior média de desigualdade econômica do país, aponta IBGE. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2023/05/11/paraiba-tem-maior-media-de-desigualdade-economica-do-pais-aponta-ibge.ghtml. Acesso em: 12 mai. 2023.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua: Rendimento de todas as fontes 2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102000_informativo.pdf. Acesso em: 12 mai. 2023.
IBGE. Cidades e Estados: Paraíba. Disponível em: https://ibge.gov.br/cidades-e-estados/pb.html. Acesso em: 13 mai. 2023.
IBGE. Índice de Gini em 27 Unidades da Federação. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7435#resultado. Acesso em: 14 mai. 2023.
JORNAL DA PARAÍBA. Paraíba tem maior desigualdade econômica do país, aponta IBGE. Disponível em: https://jornaldaparaiba.com.br/economia/paraiba-tem-maior-desigualdade-economica-do-pais-aponta-ibge/. Acesso em: 12 mai. 2023.
Paulo Galvão Junior, economista paraibano, escritor, professor de Economia do UNIESP, conselheiro suplente do CORECON-PB e sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba. Instagram: @paulogalvaojunior.