Brasil 247
A despeito das diferenças políticas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei, Brasil e Argentina estão prestes a firmar um acordo de cooperação para a importação de gás natural. O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que destacou a importância da medida para ampliar a oferta do insumo e reduzir seu custo no Brasil. O acordo será assinado nesta segunda-feira, durante as reuniões dos líderes do G20, que acontecem no Rio de Janeiro, segundo informa o jornal O Globo.
O acordo é parte de uma estratégia para explorar o potencial do megacampo de Vaca Muerta, na Argentina, atualmente subaproveitado. O plano do governo brasileiro é começar a importar 2 milhões de metros cúbicos diários de gás já no início de 2025. Esse volume poderá crescer para 10 milhões de m³/dia nos próximos três anos, chegando a 30 milhões de m³/dia em 2030. Para fins de comparação, o consumo de gás no Brasil varia de 70 milhões a 100 milhões de metros cúbicos por dia.
“Nós queremos aumentar a oferta de gás no Brasil e, consequentemente, diminuir o preço. Precisamos tratar o gás como uma energia de transição, aumentar o volume para reduzir o custo e promover a reindustrialização do país”, afirmou Silveira.
A Argentina oferece gás a preços bastante competitivos. Em Vaca Muerta, o custo do insumo é de cerca de US$ 2 por milhão de BTUs. A expectativa é que, após importado, ele chegue ao Brasil entre US$ 7 e US$ 8 por milhão de BTUs, um valor significativamente mais baixo do que a média atual de US$ 13,82 praticada no mercado nacional, segundo fontes do setor industrial.
Para viabilizar essa importação, Silveira mencionou cinco possíveis rotas de transporte. Uma delas é a utilização do Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), que atualmente está subaproveitado devido à redução da produção boliviana. O governo brasileiro já considera inverter o fluxo do gasoduto argentino para encaminhar o gás de Vaca Muerta até a Bolívia e, em seguida, utilizar o Gasbol para distribuição no Brasil. Hoje, a Bolívia exporta apenas 15 milhões de m³/dia ao Brasil, bem abaixo de sua capacidade de 30 milhões m³/dia.
Outras opções incluem a construção de um sistema de gasodutos que atravessaria o Chaco paraguaio, a conexão direta com Uruguaiana (RS) e a ampliação da rede interna para Porto Alegre. Há ainda a possibilidade de exportação via Uruguai e o uso de gás natural liquefeito (GNL), embora essa última alternativa encareça o processo.
As obras para a reversão do fluxo do gasoduto que conecta Vaca Muerta ao Norte da Argentina, alcançando a Bolívia, devem ser concluídas até março de 2025, segundo o secretário de Energia argentino, Eduardo Javier Rodríguez Chirillo. Ele ressaltou que a Argentina enfrenta uma transição regulatória e precisa ajustar preços e demandas internas antes de consolidar o envio ao Brasil.
Silveira também analisou os impactos geopolíticos da reeleição de Donald Trump, afirmando que a transição energética será tanto uma “necessidade climática quanto uma oportunidade econômica”. Ele acredita que Trump representaria “uma voz forte, mas isolada” nas discussões globais sobre economia verde.
O ministro mencionou ainda que líderes como a italiana Georgia Meloni, que aposta na energia nuclear por ser considerada limpa, demonstram que o tema da transição energética será um campo de intensas discussões. “Nós temos uma outra Petrobrás enterrada. Com apenas 27% do solo brasileiro mapeado, já somos a sétima maior reserva mundial de urânio. Com mais pesquisas, acredito que o Brasil pode figurar entre as três maiores reservas”, completou Silveira.